A Inteligência Artificial (IA) está transformando o cenário educacional, oferecendo novas oportunidades para qualificação e otimização do aprendizado. Há mais de 20 anos acompanhando as transformações na área, o professor e mestre em Estudos de Linguagens, Marcus Vinícius de Souza, defende que a IA tem um caminho promissor, contrariando o senso comum de demonização dessa tecnologia. Segundo ele, desde que sejam usadas de forma crítica, inteligente e madura, ferramentas como o ChatGPT podem aprimorar a capacidade dos estudantes em vez de promover a preguiça de escrever.
A introdução da IA no ambiente educacional está ajudando a mudar a mentalidade tradicional de decoreba, incentivando uma abordagem mais crítica e analítica dos alunos. Afinal, o conteúdo técnico já está todo na internet. Não precisando mais provar que sabe os dados, eles são provocados a relacionar as informações a contextos e estabelecer análises críticas com argumentos bem fundamentados.
De acordo com a Educational Research Review, o uso de IA na educação fomenta habilidades de pensamento crítico – 65% dos estudantes de uma amostra demostraram melhora significativa nessa área após a integração de ferramentas de IA em suas rotinas de estudo.
“É claro que o debate é amplo, pois a IA implica em questões de legislação, direitos autorais, de propriedade intelectual, privacidade... No entanto, do ponto de vista educacional, vejo que os alunos com senso crítico têm muita ferramenta legal à disposição para aprimorar sua aprendizagem”, afirma.
Porém, a IA não faz milagres. Apesar de facilitar os estudos, ela exige um bom vocabulário para dar respostas assertivas e ser usada com toda a sua potência. Ou seja, os comandos (chamados prompts) são mais bem executados quando a pessoa é clara. Prova disso é que um estudo do Computers & Education Journal mostrou que alunos com maior proficiência lexical conseguem utilizar as ferramentas de IA de maneira mais eficaz, melhorando sua compreensão e desempenho acadêmico.
Vamos à prática!
Com os comandos certos no ChatGPT, o aluno consegue formular estruturas frasais mais interessantes. A IA ajuda a reestruturar o conteúdo e, se você quiser, identificar e justificar as mudanças feitas, como a substituição de palavras repetitivas por sinônimos, o ajuste da ordem
das frases para maior clareza e a inclusão de exemplos para tornar o argumento mais convincente – veja o exemplo a seguir, com esses três tipos de melhorias.
Texto Original
"Durante a reunião, várias questões importantes foram discutidas. Ela foi longa, mas produtiva. Os participantes da reunião levantaram preocupações sobre o prazo do projeto. Eles também discutiram a alocação de recursos e a necessidade de mais pessoal. A equipe de desenvolvimento expressou a necessidade de ferramentas melhores para concluir o trabalho no prazo. Houve um consenso de que melhorias são necessárias para o sucesso do projeto."
Texto melhorado com IA
"Durante a reunião, várias questões cruciais foram abordadas, resultando em um encontro longo, mas produtivo. Os participantes expressaram preocupações sobre o prazo do projeto e discutiram a alocação de recursos, além de destacar a necessidade de mais pessoal. A equipe de desenvolvimento enfatizou a urgência de melhores ferramentas para garantir a conclusão do trabalho no prazo. Houve um consenso de que essas melhorias são essenciais para o sucesso do projeto."
E o professor nessa?
Embora a IA seja uma ferramenta poderosa, ela não substitui a figura do professor. Pesquisa do Journal of Teacher Education reafirma que a presença de um educador é crucial, com 87% dos alunos destacando a importância do feedback humano em suas trajetórias. “Isso porque o aprendizado efetivo está intimamente ligado à socialização e ao processo afetivo. A interação humana continua sendo fundamental para o desenvolvimento educacional completo”, ressalta Marcus Vinícius de Souza.
Legenda baixo
À frente da mesa, o professor em sua salinha preparatória para a Redação do Enem. Foto: Divulgação MV Linguagens